Agro fecha 2025 com recorde de produção, diz CNA

CNA / Reprodução / YouTube

Inadimplência no crédito rural dispara a 11,4% e João Martins aponta "risco fiscal" como principal desafio para 2026

Em coletiva realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o presidente João Martins apresentou o balanço do agronegócio em 2025 e as projeções para 2026. “Para nós foi um ano bom”, afirmou ao abrir o evento, destacando que, mesmo diante de restrição de crédito e problemas climáticos, o país alcançou novo recorde de produção, com safra estimada em mais de 350 milhões de toneladas.

Números do agronegócio em 2025

De acordo com os dados divulgados, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deverá fechar 2025 com alta em torno de 9,6%, alcançando cerca de R$ 3,13 trilhões. O desempenho confirma o campo como um dos principais motores da economia brasileira.

O Valor Bruto da Produção (VBP) total do agro foi estimado em aproximadamente R$ 1,49 trilhão, um crescimento de 11,9% em relação a 2024. A agricultura teve papel central nesse resultado, com VBP agrícola projetado em cerca de R$ 981,3 bilhões, alta de 10,8% em comparação ao ano anterior.

Na pecuária, o VBP foi estimado em cerca de R$ 516,5 bilhões, avanço de 14,2%, impulsionado principalmente pela recuperação da bovinocultura de corte e pela melhora gradual dos preços ao produtor.

No cenário macroeconômico, a CNA ressaltou que o agronegócio foi decisivo para a estabilização da inflação, que deve encerrar o ano em torno de 4,4%. Sem o desempenho robusto do campo, o país correria o risco de descumprir a meta inflacionária, o que poderia manter os juros em níveis mais elevados por mais tempo.

2026: otimismo cauteloso e riscos à vista

Apesar dos resultados expressivos de 2025, o tom em relação a 2026 é de prudência. A CNA projeta que o PIB do agronegócio deverá crescer cerca de 1% no próximo ano, refletindo um ambiente de maior incerteza e menor ritmo de expansão.

Entre os fatores que pesam sobre o setor estão os juros ainda elevados, o endividamento rural, as margens de rentabilidade comprimidas, o aumento de custos de produção, o clima instável e as pressões externas sobre o comércio internacional.

Para o VBP total do setor, a estimativa é de alta de aproximadamente 5,1% em 2026, chegando a algo em torno de R$ 1,57 trilhão. A agricultura deve responder por cerca de R$ 1,04 trilhão, com crescimento próximo de 6,6%, enquanto a pecuária tende a atingir por volta de R$ 528,1 bilhões, mantendo trajetória moderada de expansão.

Mesmo com esse cenário de crescimento mais comedido, a CNA alerta para riscos estruturais que ameaçam a sustentabilidade do setor. Entre eles, a inadimplência no crédito rural, considerada a maior desde 2011, a baixa cobertura do seguro rural, que protege apenas uma pequena parcela da área plantada, e a alta exposição dos produtores a choques climáticos e econômicos.

A fala de João Martins: “Mesmo com adversidades, fizemos história”

Em seu pronunciamento, o presidente da CNA, João Martins, enfatizou a resiliência do produtor rural brasileiro. “Mesmo com restrição de crédito e problemas climáticos, nós batemos novo recorde de produção, terminando o ano com uma safra superior a 350 milhões de toneladas”, afirmou.

Para ele, a definição de 2025 como um “ano bom” não se deve apenas aos números robustos, mas à capacidade de o setor superar adversidades consideradas graves ao longo do ciclo. Martins destacou que o agronegócio tem sido fundamental não só para garantir alimento à população, mas também para manter o equilíbrio das contas do país.

Ao mesmo tempo, fez um alerta: o Brasil não pode lembrar do campo apenas em momentos de crise. Segundo o presidente da CNA, a sustentabilidade do setor no longo prazo depende de políticas estruturadas e previsíveis, que ofereçam segurança jurídica, acesso adequado ao crédito, instrumentos de seguro climático e incentivos para inovação e tecnologia no campo.

Agro como motor da economia e setor vulnerável

O balanço apresentado pela CNA reforça o papel do agronegócio como protagonista da economia brasileira em 2025. O setor elevou sua produção, ampliou o faturamento, contribuiu para a geração de empregos e ajudou a conter a inflação, influenciando positivamente o PIB nacional.

Por outro lado, a transição para 2026 revela um horizonte de crescimento mais modesto e cercado de incertezas. O endividamento rural, a baixa cobertura de seguro agrícola, os custos elevados e os riscos climáticos formam um conjunto de desafios que pode comprometer parte dos avanços recentes.

Na avaliação de João Martins, o desempenho do agronegócio em 2025 mostra que o setor é capaz de “fazer o impossível” mesmo em condições adversas. Porém, para manter o ritmo e garantir sustentabilidade, será necessário ir além da sorte com o clima ou da demanda externa aquecida. O Brasil precisará construir um ambiente mais estável, com políticas públicas consistentes e apoio efetivo ao produtor rural.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem