Opinião - A eterna dança das cadeiras na Petrobras: a troca do técnico nem sempre resolve os problemas do time

Guilherme Marques Moura*


Apesar da comoção de mercado, a vida do presidente da maior petroleira nacional, a Petrobras, geralmente é marcada pela instabilidade. Com a saída anunciada no dia 28 de março, Joaquim Silva e Luna cede espaço para o 11.º gestor da companhia nesse século, José Mauro Coelho. Com exceção de Sérgio Gabrielli e Maria das Graças Foster, que se mantiveram no cargo por quase 7 anos e 3 anos, respectivamente, o comandante da empresa não costuma durar mais do que 2 anos. Apesar da Petrobras contar com o capital privado e responder ao mercado, a decisão de permanência ou não do seu gestor é determinada pelo presidente. Nessa dança da cadeira, é necessário avaliar o perfil do novo presidente da companhia, os fatores que levaram a essa troca e quais as perspectivas futuras.

Com doutorado em Planejamento Energético e mestrado em Ciências dos Materiais, José Mauro era secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia. Anteriormente, fez carreira na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal do governo responsável pelo planejamento do setor elétrico. Os currículos acadêmico e profissional validam sua escolha como o 40.º presidente da Petrobras. Publicamente, ele já defendeu a prática de preços internacionais dos combustíveis no país, alegando que preços artificiais poderiam causar desabastecimento do mercado.

Ligado à ala militar, Joaquim Silva e Luna assumiu a presidência da Petrobras buscando equilibrar os interesses entre acionistas/investidores e a sociedade. Com a promessa de não intervir na política de preços da empresa, o general da reserva é substituído após reajustar os derivados de petróleo em mais de 18% em março de 2022. O petróleo é precificado internacionalmente, e, com a guerra Rússia-Ucrânia e a disparada do dólar, ficou insustentável a manutenção dos preços dos combustíveis. Essa mudança sinaliza que o apoio da sociedade pode ser mais relevante que o de mercado, ainda mais considerando o ano de eleição. Tal que, José Mauro seria uma resposta de Bolsonaro à política de preços adotada pela estatal.

Entretanto, o novo gestor da companhia já argumentou que a escalada dos preços do petróleo era um problema global. Dado que o Brasil é um importador de combustíveis, Coelho ressaltou a necessidade de a Petrobrás praticar preços alinhados às cotações internacionais. Por esse motivo, parece improvável que ocorra uma mudança na política de preços da Petrobras, tanto que o preço de mercado da companhia pouco se alterou com a troca de comando. Contrapondo essa possível manutenção da paridade internacional no preço do petróleo, José Mauro já criticou publicamente o “efeito cascata” gerado pela cobrança do ICMS estadual sobre os preços dos combustíveis. Segundo Coelho, o aumento do combustível causa um aumento no imposto, que é calculado como um percentual sobre o preço final do combustível, elevando ainda mais o preço final do combustível.

Dadas as repercussões político-econômicas da última intervenção direta no preço do petróleo, parece improvável que a nova troca de presidente na Petrobras modifique abruptamente o modus operandi da empresa. Essa modificação representa uma resposta muito mais política do que econômica, o que pode ser útil em anos eleitoreiros. De fato, José Mauro apresenta as qualificações necessárias para dirigir a empresa, mas, será que os seus antecessores não eram igualmente qualificados? A gestão da empresa se assemelha bastante a de um time de futebol, em que, a qualquer sinal de problema, troca-se o gestor. Entretanto, essa alternativa nem sempre melhora os resultados do time. E, no caso da Petrobras, possivelmente não trará a redução dos preços dos combustíveis.

*Guilherme Marques Moura, doutor em Desenvolvimento Econômico, é professor da Escola de Negócios da Universidade Positivo (UP).

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