Honestino contra a ditadura, em 1966

Aylê Salassié comprou um fusca em setembro de 1966. A aquisição ocorreu em um ano movimentado tanto em termos de repressão quanto de resistência.



Assim que apresentou o automóvel ao amigo Honestino Guimarães, ouviu a sentença: “Aylê, seu fusca está requisitado para o movimento estudantil”. O carro serviu de transporte para os militantes e cumpriu missões que demonstraram a disposição e a coragem deles.

A repressão se fez rigorosa na capital do país. Mas a resistência se manteve firme. A Praça 21 de abril, na Entrequadra 707/708 Sul, era um dos locais de encontro preferidos p ara concentração antes de protestos. As repúblicas de estudantes, pela característica essencial de reunir vários deles sem a presença dos pais, também se tornaram endereços de mobilização. Apesar da tentativa do governo de ser onipresente, os opositores conseguiram empreender ações bem-sucedidas, como na sabotagem do desfile cívico de 1966.

Naquele mesmo dia em que Honestino — o líder estudantil desaparecido desde 1973 — pediu o fusca, o veículo foi usado para a primeira missão. “Honestino entrou no carro com um galão de querosene e disse: ‘Toca!’. Apesar de não saber o que faríamos, confiava muito nele. Nós fomos para a W3”, conta Aylê. Na época, a avenida era o palco do desfile do Sete de Setembro. O palanque foi montado com madeira, na Praça 21 de Abril. “Honestino mandou encostar, abriu a porta e foi despejando o líquido. Quando acabou, ele disse mais uma vez: ‘Toca!’. Eu nem sei como aconteceu, porque a gente desapareceu dali. Mas alguém veio em seguida e riscou um fósforo”, lembra.


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