Mulheres na construção civil

Carreiras profissionais que antes eram exclusivas para homens, hoje, também abrem espaço para as mulheres, mas ainda é preciso superar o preconceito



Mulheres na construção civil
Programa possibilita melhorar renda


Mecânico, motorista, mestre de obras são profissões em que anos atrás não se via a presença de mulheres em sua composição. No entanto, com o passar dos anos e um pouco da diminuição do preconceito, o mercado de trabalho ­tornou-se mais maleável e a mulherada tomou conta de carreiras “fora do padrão. No setor da construção civil, por exemplo, era restrita a presença masculina, mas agora, conta com a mão de obra mais aprimorada do sexo feminino.

As mulheres estão buscando independência, destaque trabalhista e provar que não é o sexo frágil. Diante disso, cursos em diversas áreas estão sendo abertos para oferecer tal possibilidade. Um deles é o programa “Mulheres na Construção”, lançado em setembro de 2011 pela Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), órgão vinculado ao Ministério de Integração Nacional e com o apoio da Secretaria da Mulher do Distrito Federal e outras instituições, que já capacitou mais de 400 mulheres para o mercado da construção civil no DF e Entorno. Foram investidos pela Sudeco cerca de R$ 1,1 milhão.

Marcelo Dourado, superintendente da Sudeco, explica que investir na capacitação das mulheres é primordial, já que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam um acréscimo substancial no número de mulheres chefes de família nos últimos anos. “Os números dizem tudo. Para cada 15 famílias monoparentais, 14 são chefiadas por mulheres”, disse Marcelo.

De acordo com o superintendente, programas direcionados à inserção social e econômica da mulher têm sido prioridade para o órgão, desde sua recriação em maio de 2011. “A mulher investe mais na economia familiar. Normalmente, assume toda a responsabilidade da família, principalmente nos casos de dissolução matrimonial”, explica.

Segundo Dourado, o programa, que está em plena expansão, tem servido como modelo para órgãos similares de outros estados, que estão implementando a iniciativa. Ele conta também, que a partir do próximo mês de setembro, o projeto atingirá uma nova fase e capacitará a 1,8 mil mulheres de toda a região Centro-Oeste em diversos campos de atuação, que, até então, eram voltados para homens. “O projeto iniciou-se no Distrito Federal e na Região Metropolitana, porém, com os bons resultados alcançados, estamos ampliando para todo o Centro-Oeste. Também estamos estendendo para outras áreas de atuação como mecânica de automóveis e motocicletas, dentre outras”, contou o superintendente. O Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF) é responsável pela inserção dos alunos formados no mercado de trabalho por meio de contrato temporário e em caráter experimental.

Via de acesso

A secretária da Mulher do Distrito Federal, Olgamir Amancia, esclarece que o programa é uma via de acesso à renda e à autonomia para que mulheres subsumidas em contextos complexos de preconceito de gênero alcancem a emancipação. “Com acesso à renda e à autonomia, podem enfrentar a violência doméstica e lutar por cidadania”, esclareceu a secretária.

Olgamir explica, que a secretaria atuou na captação das alunas, na elaboração de um módulo específico para a abordagem de aspectos como valorização, saúde e direitos da mulher e também no diálogo com as empresas, ademais de realizar um acompanhamento sistemático durante e pós conclusão do curso. “Queremos que essas mulheres conheçam seus direitos, as possibilidades de denúncia nos casos de violência, que tenham acesso à saúde, que tenham independência. Inserimos no diálogo com as empresas um trabalho de sensibilização porque sabemos que ainda é preciso superar obstáculos”, explicou.

A secretária da Mulher destaca o projeto do Governo do Distrito Federal, “Fazendo Gênero nas Escolas”, como um meio pelo qual a secretaria procura estabelecer um debate com a comunidade escolar, incluindo os alunos, com o objetivo de conscientizar que a violência contra a mulher não se restringe às culturas e nem a grupos específicos, mas sim, em decorrência da discriminação perseverante contra elas, derivado da cultura patriarcal. “É preciso desconstruir essa cultura patriarcal e é através da educação que se estabelecem as mudanças”, finalizou Olgamir Amancia.

Iniciativa bem aceita

Ainda segundo Marcelo Dourado, as referências apresentadas pelos empresários que abraçaram a iniciativa revelam um alto nível de satisfação no que se refere a aplicação dos conhecimentos adquiridos nos cursos de capacitação, além da contribuição para a suavização do ambiente laboral. “As mulheres são mais caprichosas e não faltam na segunda-feira, como acontece em alguns casos. Além disso, transformam o ambiente de trabalho em um espaço mais ameno. Isso fica muito claro na construção civil”, ressaltou Dourado.

No entanto, ele afirma que é necessário superar o preconceito, pois muita gente ainda vê a mulher como alguém com menos capacidade, força e dinâmica. “Superar o preconceito ainda é um desafio, essa é uma questão que sai do nosso controle. Contamos com o apoio de diversos empresários do setor, que estão contribuindo fortemente para a inserção dessas mulheres no mercado de trabalho, mas ainda há muita resistência por parte dos profissionais que ocupam os cargos de chefia direta. Infelizmente, ainda existe o preconceito”, finalizou Marcelo.

Dona Maria Elinete, 44 anos, ex-aluna do curso de capacitação oferecido pelo programa “Mulheres na Construção”, conta que a formação contribuiu para a qualificação profissional, mas, além disso, cooperou para motivar uma mudança no comportamento de muitas mulheres que integraram o grupo de aprendizes. “Foi muito bom. Aprendemos um ofício, mas, mais que isso, ajudou a mudar o comportamento de muitas companheiras que chegaram ao curso sem autoestima, desacreditadas e saíram com outra visão, com vontade de vencer, de trabalhar, com autoconfiança”, contou Maria.

Lucilene Fernandes, 45 anos, também foi aluna do projeto e hoje trabalha como pintora na construção civil. Ela conta que a experiência adquirida durante o curso abriu novas possibilidades para uma carreira profissional mais sólida e com melhores expectativas. “O curso foi muito positivo. Recebemos o acompanhamento da Secretaria da Mulher, da Secretaria do Trabalho e aprendemos muito com eles. Ninguém falou que seria fácil, mas, nos incentivaram a não desistir de nossos objetivos. Passei por algumas empresas depois que concluí o curso e tive algumas dificuldades, mas agora faço o que gosto e sinto que meu trabalho é valorizado. Não paro por aqui, quero seguir me especializando”, disse Lucilene.

Os cursos são totalmente gratuitos. Cada estudante recebe o material didático, uma camiseta do programa e um kit com ferramentas. Além disso, tem direito ao passe livre, para ir e voltar para a escola de graça, de ônibus ou metrô (só para os estudantes que moram no DF). Cada participante também recebe uma bolsa de assistência estudantil no valor de R$ 200 por mês, caso frequente as aulas regularmente.

Mulheres e mercado de trabalho

As mulheres representam 51,5% da população. São chefes de 24,099 milhões de famílias, das 64,358 milhões que vivem em domicílio particular. Em média, dedicam 7,5 anos aos estudos, contra 7,1 anos dos homens. A média de vida das mulheres é 77,7 anos em contrapartida a dos homens, que é de 70,6. De acordo com levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos dados mais recentes do instituto, publicados em 2009, quase 22 milhões de famílias declaram a mulher como esteio familiar em todos os aspectos, materiais e de relacionamento.

Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011, o trabalho doméstico deixou de ser a atividade que mais emprega mulheres: em 2009, 17,1% das mulheres economicamente ativas eram trabalhadoras domésticas. Em 2011, esse percentual diminuiu para 15,6%. A atividade que mais emprega mulheres é o comércio, sendo responsável pelo emprego de 17,6% delas e, em segundo lugar, estão as atividades de educação, saúde e serviços sociais com 16,8%.

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